07/04/2008

Entrevista OnLine

Perfil: Helena Prates

Jornalista pelotense, formada na Universidade Católica de Pelotas, e especialista em Jornalismo Cultural pela PUC/SP, Helena Prates vive há 5 anos em São Paulo. Nesta entrevista concedida via e-mail, ela fala sobre suas experiências profissionais e pessoais, vivenciadas no cenário do concorridíssimo mercado paulistano.

BlogJOL - Helena, depois de formada, tua escolha foi buscar um espaço no concorridíssimo eixo Rio-São Paulo. Como avalias essa opção hoje, cinco anos depois de sair de Pelotas? Quais os melhores e piores momentos dessa "aventura"?

Helena - Sem dúvida nenhuma os melhores momentos são os que vivo com os grandes amigos que conquistei em São Paulo, para minha surpresa, pois quando saí de Pelotas esperava qualquer coisa de uma metrópole como esta menos as verdadeiras amizades que me abraçaram por aqui. Aliás, diferente da imagem que se faz de São Paulo, esta é uma cidade que acolhe, te abraça mesmo. Além disso, o volume de informações e oportunidades que circula por aqui também é outro grande momento desta aventura. O pior eu diria que é ficar longe da minha família, mas até para ela passei a dar mais valor depois que fui embora.

"Aliás, diferente da imagem
que se faz de São Paulo,
esta é uma cidade que acolhe,
te abraça mesmo."

BlogJOL - Com base na tua pesquisa de especialização, é possível admitir que existam possibilidades alternativas ao paradigma do eixo Rio-São Paulo para os profissionais da Comunicação?

Helena - Ao finalizar minha especialização em Jornalismo Cultural na Puc, na qual foquei na importância dos capitais simbólicos para a consagração de bens culturais, enfim, na economia da arte, concluí que estar fora do eixo Rio-São Paulo não é desculpa para não se produzir bons trabalhos. É uma pena que em nosso país (talvez na América Latina em geral, por razões culturais, de formação cultural) os capitais simbólicos essenciais à consagração de um bem cultural (como meios de comunicação, formadores de opinião, o próprio dinheiro...) estejam concentrados no Rio e em São Paulo. A cultura regional, em nosso país, tem a necessidade de ser validada por este eixo para ser ao menos considerada em sua região de origem. Assim como bens culturais nacionais (cantores, escritores, etc) têm mais facilidade em ser reconhecidos no Brasil quando antes adquirem a consagração internacional, por exemplo. Porém, isso não significa que não exista uma importante produção cultural espalhada pelo Brasil. É uma pena saber que produtos culturais de grande importância nem sempre serão conhecidos pelos brasileiros. O importante é, enquanto comunicadores, tentarmos sempre reconhecê-los. Mas isso já é outro assunto! Rende até outra pauta, com profissionais mais preparados do que eu para abordar este tema!

"A cultura regional,
em nosso país, tem a
necessidade de ser
validada por este eixo
para ser ao menos
considerada em sua
região de origem."


BlogJOL - Atuar no campo da publicidade, sendo formada em jornalismo, foi uma escolha pessoal ou uma imposição do mercado?

Helena - Acho que o mercado pode até nos impor condições mas cabe a nós aceitá-las ou não! Decidi trabalhar com publicidade para abrir minhas experiências profissionais e exercitar meu lado criativo, que é muito forte em mim, e até é trabalhado no jornalismo, mas de forma mais limitada, digamos assim. E, cá entre nós - leitores! - a decisão foi de fato tomada quando percebi que não agüentava mais andar de metrô na hora do rush. Trabalhava em uma editora muito longe da minha casa e agência que me procurou ficava bem mais perto. Aliás, por um tempo, ficou dentro da minha própria casa!!

"Cá entre nós - leitores! -
a decisão foi de fato tomada
quando percebi que não
agüentava mais andar
de metrô na hora do rush."

BlogJOL - Quais os prós e os contras de ser uma jornalista atuando no meio publicitário? Como é o relacionamento com os publicitários? Na tua carreira profissional, em algum momento sentistes alguma carência ou falha na tua formação acadêmica?

Helena - O bom de ser jornalista por formação (porque sou sim a favor do diploma em nossa profissão!) é a capacidade crítica que adquirimos. Somos preparados para questionar tudo, ao contrário do que muitos pensam, jornalista, na minha visão, é aquele que tudo pergunta e não aquele que tudo sabe! Mas isso de certa forma é o que pode dificultar o trabalho de um jornalista no mercado publicitário, feito justamente para não questionar nada. É ingênuo querer mudar o mundo, mas é fundamental tentar ao menos não piorá-lo! Por isso, voltei a trabalhar com produção cultural e a contar histórias. Assim consigo exercitar meu lado criativo a partir da minha formação jornalística.
Em nenhum momento senti carência pelo fato de ter me formado em Pelotas. A faculdade de jornalismo da UCPel é muito boa, na minha opinião, porque tem a base no ser humano e não apenas nas técnicas, e definitivamente acho que cabe a cada aluno buscar seu diferencial. A especialização que tive a oportunidade de cursar na Puc/SP foi fundamental para a conclusão da minha formação. E minha orientadora, a jornalista e professora Margareth Steinberg, fundamental para minha consagração simbólica enquanto jornalista (rs)!! Outro importante nome em minha caminhada profissional, e mesmo pessoal, é o do meu amigo e diretor teatral Valter Sobreiro Junior - importante produtor cultural do Brasil.

"Jornalista,
na minha visão,
é aquele que tudo
pergunta
e não aquele
que tudo sabe!"

BlogJOL - Poderias elencar algum "mandamento fundamental" que todo o comunicador deve aprender a praticar antes de entrar no mercado de trabalho?

Helena - Difícil falar por todos, cada um tem uma filosofia de vida, mas pelo fato de morarmos em um país tão rico culturalmente e ao mesmo tempo tão imaturo, digamos assim: enquanto comunicadores temos a obrigação de trabalharmos com o indivíduo e não com a massa. E longe de isso ser um blablabla demagógico! Mas na prática, acho que devemos sempre perguntar a quem vamos falar ao produzirmos determinada mensagem, seja no meio que for!

"Enquanto comunicadores
temos a obrigação de
trabalharmos com o
indivíduo e não com a massa."

Pierre Bourdieu (filósofo francês que eu adoro!) em um dos seus livros diz que toda pessoa que tem a oportunidade de atingir um meio de comunicação deveria se perguntar se realmente tem algo importante a dizer e a quem isso poderá interessar. Hoje, mesmo com a internet, acho que as pessoas devem se perguntar isso. Blogueiros, por exemplo, com os quais muito trabalhei... na minha opinião, qualquer um pode ter um blog hoje em dia, mas, sinceramente, poucos realmente dizem alguma coisa! Aliás, tem gente que fala uma vida inteira e não diz nada (talvez eu, por exemplo!!)! Em resumo, acho que um comunicador deve ter sempre em mente que sua atividade é humana, por isso, deve sempre pensar no serzinho a quem se dirige! Técnicas serão sempre apenas ferramentas para se atingir o principal objetivo!

"Pierre Bourdieu diz que
toda pessoa que tem
a oportunidade de atingir
um meio de comunicação
deveria se perguntar se
realmente tem algo
importante a dizer
e a quem isso poderá interessar.
(...) qualquer um
pode ter um blog
hoje em dia,
mas sinceramente,
poucos realmente
dizem alguma coisa!"


3 comentários:

Anônimo disse...

Adorei! UCPEL de parabéns com essas alunas!!!!!!!!!!!
Parabéns e boa sorte para ambas nessa profissão tão bacana!!!!!!!!!!!

Rosane Muniz disse...

Tive o prazer de ser uma das anfitriãs desta grande profissional que é Helena Prates. Se os profissionais de Pelotas forem sempre deste nível, prepare-se Brasil, pois aí é que está o futuro simbólico do país! (rs)
Parabéns para as duas pela entrevista.
Rosane Muniz

Unknown disse...

Parabéns pras duas!!!! Aí despontam duas grandes jornalistas hein??!! Na minha opinião, as duas com bastante futuro! Vamos juntas na luta!