12/05/2008

Jornalismo Open Source é Jornalismo?

Pesquisa realizada pelo Datafolha mostrou dados inéditos: 49 milhões de brasileiros utilizam a Internet. Destes, 42% publicam conteúdo próprio. Claro que a maioria deste conteúdo independente tem a finalidade de servir de elo para os relacionamentos no cyberespaço (fotos, por exemplo). Apenas 5% afirmou já ter publicado notícias ou estórias. Um número pequeno mas não negligenciável se observarmos o exemplo da Publicidade, que em matéria de utilização das ferramentas da Internet parece ter largado na frente, e de forma mais acelerada que o Jornalismo.


Basta observar outros números que servem de referência para a compreensão dessa tendência, com efeitos cada vez mais sensíveis, de autonomia para a geração de conteúdos, com relação ao mercado on line:

71% dos consumidores online lêem comentários de opinião sobre produtos e serviços “postados” na Internet (Forrester);
77% dos internautas que fazem compras online usam os e iamgeme comentários sobre os produtos feitas por consumidores são extremamente úteis e facilitam a sua decisão de compras (eTailing Group);
63% dos consumidores declaram que estão mais propensos a comprar em sites que tem criticas e comentários sobre os produtos , bem como o rating de satisfação dos clientes . (CompUSA & iPerceptions study);
42% declaram que o “rating” e comentários sobre os produtos são decisivos na realização da primeira compra na Internet. (Foresee Results Study, 2006)

Atento a isso, o analista de sistemas Aloísio Sotero, do site Acheme7, que há anos trabalha no setor de marketing de grandes empresas e dedica-se ao estudo dos comportamentos do consumidor comenta: "Ao que parece estamos voltando com a Internet ao fundamento dos negócios: Mercado são conversas. (...) Os anúncios em jornais e revistas também são conversas, só que agora as conversas aumentaram com os conteúdos gerados pelos consumidores".

Mas... e o jornalismo?

A jornalista Daniela Bertocchi, em seu blog Intermezzo chama a atenção para o fato de que os maiores colaboradores, de acordo com a pesquisa, estão entre 16 e 24 anos. "Em poucos anos, esse público ficará mais velho e serão eles os maiores compradores e consumidores de notícias; eles terão um peso no bolo financeiro do mercado de comunicação bastante considerável. Entretanto, os veículos de comunicação ainda estão patinando em iniciativas que atendam o comportamento desse público na internet" avalia.

Apesar do número de internautas geradores de conteúdo noticioso ser ainda bastante reduzido, ele é, sem dúvida, crescente. Isso redimensiona o sentido do jornalismo, pois faz crescer em importância e dá visibilidade àquilo que é particularmente importante, ou relevante apenas no âmbito local.

Falar em jornalismo open source significa considerar jornalismo a factualidade das informações, a difusão de notícias de interesse público, e a liberdade de comunicação e de expressão da realidade.

O grande impasse nessa questão é: se qualquer um pode fazer jornalismo, então os jornalistas são dispensáveis? Acredito que não, mas sobre isso não há respostas definitivas.
Conheço bons blogs de notícias e informação, submetidas a diferentes formatos. Uns são de jornalistas, outros não e mesmo assim são capazes de (bem) informar.

Sérgio Rizzo, prefaciando o livro A Apuração da Notícia, de Luiz Costa Pereira Junior, afirma: "É bem verdade que o despreparo mostrado por muitos jovens recém-chegados (e que chegam cada vez mais cedo) às Redações contribui para alimentar a idéia de que não lhes foi dito, nos quatro anos de faculdade, como garimpar a matéria-prima da atividade jornalística, a informação que veiculamos como notícia." E complementa: "é uma obviedade dizer que não há jornalismo sem ela, mas uma obviedade que talvez precise ser repetida, como um mantra, sob o risco de que se acredite, com base na fartura de exemplos disponíveis na praça, que para fazer jornalismo basta um computador com acesso à internet e um endereço eletrônico apto a receber material de divulgação das assessorias de imprensa".

Como bem sugere Rizzo, esta não é, necessariamente, uma questão de diploma. Existem jornalistas e jornalistas, mas neste grande bolo há lugar para ser ocupado por profissionais competentes, que possam oferecer um serviço diferenciado, talvez uma análise mais bem formulada. Não que isso não possa ser realizado por alguém que não seja jornalista. O diferencial está realmente naquilo que realmente se aprende na universidade, no aprofundamento das discussões, e não no volume de conhecimento acumulado.

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